sábado, 10 de setembro de 2011

O que faço eu professor?

O que faço eu professor se as condições de trabalho não permitem?
Cada dia mais mulheres se tornam independentes e acabam por preencher lugares que os homens estão perdendo.
Cada vez mais nossas crianças perdem o cuidado maternal e com força do capitalismo, a partir dos 11 anos já começam a ter uma vida “sozinha”.
Nossas crianças são jogadas no universo solitário bem mais cedo do que podiam, são jogadas responsabilidades em suas costas que ainda não estão prontas pra segurar.
São jogadas no mundo solitário da internet.
São jogadas no mundo solitário da sexualidade.
Cada tempo percorrido, nossas crianças perdem o jeito de criança.
Obrigadas a viverem sozinhas e, na maioria das vezes, sem pai ou sem mãe, seja por motivos de separação ou dinheiro, ficam a deriva.
A educação doméstica é palavra quase propriamente dita extinta.
Assim como a palavra sustentabilidade é moderna.
Onde nossas crianças irão buscar a educação primordial?
- Em redes sociais online: Orkut, MSN, facebooks e twitters?
- Na escola?
- Na rua?
- Em festas?
A sala de aula em dias como esses não é tarefa nada fácil:
O sistema é o seguinte:
As maiorias dos pais colocam os seus filhos nas escolas e pronto, dever cumprido.
A escola acolhe os seus filhos e os empurram de ano em ano e fazem a sua parte.
E por traz de tudo isso existe pessoas que se beneficiam de maneira covarde através da situação inescrupulosa.
Nas escolas públicas o professor finge que ensina e o aluno que aprenda e o analfabetismo não é levado em conta.
Nas particulares não é muito diferente.
A maioria desses pais, ou talvez até, o todo da sociedade, não crêem mais na educação.
E o pior de tudo, é que podem estar certos.


A situação da maioria das escolas particulares e de bairro é a seguinte:
A mãe não paga a escola por não acreditar na educação ou por ter renda baixa, o professor trabalha assim mesmo, o quadro hierárquico superior recebe a quantia que os adimplentes pagam e o professor ou “sofressor” espera. E que sirva o ditado pra ele: “A corda arrebenta por o lado mais fraco”.
Na maioria das escolas privadas o aluno não é reprovado, ou melhor, não pode ser.
O aluno está certo porque paga a escola, o aluno é o cliente, o professor um vendedor ambulante de verduras numa feira interminável de falta de educação doméstica.
Quando tenta dar aula é calado pela multidão de alunos por m2. 40 numa sala, onde o permitido é 25.
E pra piorar o professor tem que escutar os ditos populares:
- Pra que estudar professor se tem o Google?
- Professor aqui ninguém reprova não.
- Professor essa escola não tem estrutura, nem sala de informática.

É proibido ao professor:
- Por o aluno para fora da sala de aula (detalhe: se dispondo com o mesmo possivelmente terá conflitos com aquela mãe ausente que paga a escola e que acha que a mesma deve resolver tudo).
- Reprovar o aluno (Detalhe: se o professor reprova, o aluno sairá da escola, portanto, prejuízo ao dono, resultado: o professor fica sobre quarentena).
- Se pronunciar, pois por todos os motivos, ângulos, lados ou dimensões nunca está certo.
- Inovar (Detalhe: que o novo seja bastante original caso o faço, pois, o sistema é uma bola de ferro de chumbo de 400 Toneladas).
- etc.


O professor espera em dias melhores.
O professor espera crianças melhores.
O professor espera um piso salarial melhor.
O professor pergunta a si próprio? Vale à pena?
O que faço eu professor se as condições de trabalho não permitem?
Abandono a profissão e os anos de estudo e vou me aventurar em outra coisa?
E as contas, e a família e a minha vida?
E meu pensamento, os meus critérios, os meus ideais, irão se desintegrar como a mentira da maioria dos políticos.
E o meu papel na sociedade de formar cidadãos.
O que faço eu professor?
Aqui fica uma possível palavra “profética”:

“Haverá dias em que um professor numa sala de aula será como ver uma flor no deserto”

Antônio Henrique

13 comentários:

  1. Filha, neta e sobrinha de professores, faço jus a que escrevestes,


    Bjkas

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  2. Muito bom! Ótima reflexão, ótima análise da nossa situação (sou professora) e de nossas crianças carentes, carentes...

    Adorei seu canto, tbm tô te seguindo, bjus

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  3. É meu amigo, infelizmente a situação é essa ou talvez pior. Na minha época, na condição de estudante de escola pública, era bem melhor.

    Abraços e um ótimo domingo pra ti.

    Furtado.

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  4. Lecionei em uma época em que os pais se preocupavam com o que os filhos faziam nas escolas, procuravam os professores, discutiam as melhores opções para os filhos/alunos. Tínhamos poder de decisão, de reprovar, de repreender. Assim também fui educada.
    A realidade mostra uma inversão de valores. Os professores se sentem algemados e os pais, descompromissados, já que deixaram os filhos na escola.

    Bjs.

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  5. Bom dia Antônio Henrique


    Vim agradecer a visita e o comentário tão carinhoso que você deixou no meu blog. Gosto muito do seu também, sempre assuntos muito legais e interessantes.

    Beijos e uma semana cheia de amor.
    Ani

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  6. António,
    Parece que, com uma ou outra nuance, os problemas da educação são comuns na maior parte do planeta.
    Você põe o dedo na ferida de tal modo que não há como evitar.
    Soluções? Só mudando o paradigma do mundo. Mas temos que tentar.

    Abraço

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  7. Oii!!
    Passando para conhecer o seu espaço, gostei muito vou fazer pousada por aqui...

    Bjs, ótima tarde de domingo

    http://simplesmenteborboleteando.blogspot.com/

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  8. Olá,
    Sou professora aposentada e creio que se não for por vocação fica dificílimo...
    Abraços fraternos de paz

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  9. Oi!!Ótimo texto!Sou professora e cada vez está mais difícil lecionarmos. Mas, amo o que faço e espero que tudo melhore.Abraço.

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  10. Tenho saudade da sala de aula. Confesso que fui um covarde em abandonar o magistério, mas me consolo em não ter mais uma cruz tão pesada diante das dificuldades da profissão.
    Adorei a forma comom abordou o tema. Pais esperando pela escola e estas pelos pais, um ciclo lamentável.

    Abraço e uma ótima semana, com minha sincera homenagem ao brilhantismo de todos os professores, inclusive você, Henrique.

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  11. Menino. só lembrei do Prof.Edmilsom.Pura Realidade!

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  12. Maravilhoso post, meu amigo!
    Sou professora da rede pública de ensino e confesso que estou completamente desestimulada.
    O nosso trabalho está cada vez mais difícil, diante de tantos problemas sociais e familiares.

    Saudades! Bjs

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