O que faço eu professor se as condições de trabalho não permitem?
Cada dia mais mulheres se tornam independentes e acabam por preencher lugares que os homens estão perdendo.
Cada vez mais nossas crianças perdem o cuidado maternal e com força do capitalismo, a partir dos 11 anos já começam a ter uma vida “sozinha”.
Nossas crianças são jogadas no universo solitário bem mais cedo do que podiam, são jogadas responsabilidades em suas costas que ainda não estão prontas pra segurar.
São jogadas no mundo solitário da internet.
São jogadas no mundo solitário da sexualidade.
Cada tempo percorrido, nossas crianças perdem o jeito de criança.
Obrigadas a viverem sozinhas e, na maioria das vezes, sem pai ou sem mãe, seja por motivos de separação ou dinheiro, ficam a deriva.
A educação doméstica é palavra quase propriamente dita extinta.
Assim como a palavra sustentabilidade é moderna.
Onde nossas crianças irão buscar a educação primordial?
- Em redes sociais online: Orkut, MSN, facebooks e twitters?
- Na escola?
- Na rua?
- Em festas?
A sala de aula em dias como esses não é tarefa nada fácil:
O sistema é o seguinte:
As maiorias dos pais colocam os seus filhos nas escolas e pronto, dever cumprido.
A escola acolhe os seus filhos e os empurram de ano em ano e fazem a sua parte.
E por traz de tudo isso existe pessoas que se beneficiam de maneira covarde através da situação inescrupulosa.
Nas escolas públicas o professor finge que ensina e o aluno que aprenda e o analfabetismo não é levado em conta.
Nas particulares não é muito diferente.
A maioria desses pais, ou talvez até, o todo da sociedade, não crêem mais na educação.
E o pior de tudo, é que podem estar certos.
A situação da maioria das escolas particulares e de bairro é a seguinte:
A mãe não paga a escola por não acreditar na educação ou por ter renda baixa, o professor trabalha assim mesmo, o quadro hierárquico superior recebe a quantia que os adimplentes pagam e o professor ou “sofressor” espera. E que sirva o ditado pra ele: “A corda arrebenta por o lado mais fraco”.
Na maioria das escolas privadas o aluno não é reprovado, ou melhor, não pode ser.
O aluno está certo porque paga a escola, o aluno é o cliente, o professor um vendedor ambulante de verduras numa feira interminável de falta de educação doméstica.
Quando tenta dar aula é calado pela multidão de alunos por m2. 40 numa sala, onde o permitido é 25.
E pra piorar o professor tem que escutar os ditos populares:
- Pra que estudar professor se tem o Google?
- Professor aqui ninguém reprova não.
- Professor essa escola não tem estrutura, nem sala de informática.
É proibido ao professor:
- Por o aluno para fora da sala de aula (detalhe: se dispondo com o mesmo possivelmente terá conflitos com aquela mãe ausente que paga a escola e que acha que a mesma deve resolver tudo).
- Reprovar o aluno (Detalhe: se o professor reprova, o aluno sairá da escola, portanto, prejuízo ao dono, resultado: o professor fica sobre quarentena).
- Se pronunciar, pois por todos os motivos, ângulos, lados ou dimensões nunca está certo.
- Inovar (Detalhe: que o novo seja bastante original caso o faço, pois, o sistema é uma bola de ferro de chumbo de 400 Toneladas).
- etc.
O professor espera em dias melhores.
O professor espera crianças melhores.
O professor espera um piso salarial melhor.
O professor pergunta a si próprio? Vale à pena?
O que faço eu professor se as condições de trabalho não permitem?
Abandono a profissão e os anos de estudo e vou me aventurar em outra coisa?
E as contas, e a família e a minha vida?
E meu pensamento, os meus critérios, os meus ideais, irão se desintegrar como a mentira da maioria dos políticos.
E o meu papel na sociedade de formar cidadãos.
O que faço eu professor?
Aqui fica uma possível palavra “profética”:
“Haverá dias em que um professor numa sala de aula será como ver uma flor no deserto”
Antônio Henrique